Governo e ONGs se estranham rumo a Rio+20
Grande irritação aos ambientalista foi causada pela convocação realizada pelo governo de painéis de especialista para darem sugestões aos chefes de Estado na Rio+20.
Com a acusação de que o Itamaraty teria definido tudo se o consentimento dos demais setores, as ONGs declararam “boicote aos chamados Diálogos sobre Desenvolvimento Sustentável, que segundo o governo representa a maior inovação da cúpula.
Os diálogos serão formadas por dez painéis que reunirão debates realizados por acadêmicos, empresários e representante de povos indígenas, além de outros setores da sociedade.
Deverão ser discutidos temas como: oceanos, segurança alimentar, desenvolvimento sustentável e erradicação da pobreza, desenvolvimento sustentável e as crises econômicas, energia, água, padrões de produção e consumo, cidades sustentáveis, emprego e manejo florestal.
Os diálogos ocorrerão entre 16 e 19 de junho. Depois disso, cada painel levará aos líderes reunidos no Rio de 20 a 22 de junho três sugestões de ações a serem implementadas pelos países.
Entre os participantes já confirmados estão o Nobel de Economia Joseph Stiglitz, a “mãe” do conceito de desenvolvimento sustentável, Gro Harlem Brundtland, o embaixador brasileiro Rubens Ricupero, o economista Jeffrey Sachs e a ex-presidente da Irlanda Mary Robinson.
‘REVOLUCIONÁRIA’
O Itamaraty diz que a ideia é “revolucionária”, pois permitiria contornar o impasse tradicional entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento. Na semana passada, foi aberto na internet (www.riodialogues.com ) um processo de consulta pública sobre os temas a serem tratados pelos diálogos.
A ideia é levar dez recomendações a cada painel, que escolherá por votação as três mais relevantes. Segundo um diplomata brasileiro, será a primeira vez na história das Nações Unidas que uma declaração internacional terá a contribuição de atores não estatais -ainda que o resultado não vá ser formalmente adotado pela Rio+20.
Organizações da sociedade civil, porém, têm outra visão. “Os Diálogos, como estão desenhados até agora, são uma oportunidade perdida”, afirmou à Folha Aron Belinky, da ONG Vitae Civilis.
Em uma carta divulgada anteontem, os organizadores da Cúpula dos Povos, fórum que congregará ONGs e movimentos sociais na Rio+20, recusaram o convite para participar dos Diálogos.
Segundo a carta, o formato do debate indica “de forma inequívoca que os diálogos e seus resultados serão controlados pelo governo”.
O coordenador dos Diálogos no Itamaraty, Júlio Bitelli, diz que as críticas derivam do desconhecimento “da mecânica” do processo. “O exercício não é duplicar a Cúpula dos Povos”, afirmou. “Os Diálogos entram numa dobra entre a cúpula e o processo intergovernamental. Se tentarmos transformá-los em uma coisa ou em outra, isso mata a natureza deles.”